Fumo passivo mata sete pessoas por dia, diz estudo

23/08/2008 14:33

 

DENISE MENCHEN
da Folha de S.Paulo, no Rio

Todos os dias, ao menos sete brasileiros que nunca fumaram na vida morrem por doenças decorrentes da exposição à fumaça do tabaco. Por ano, são 2.655 mortos. Os dados constam no estudo "Mortalidade Atribuível ao Tabagismo Passivo na População Urbana do Brasil", realizado por pesquisadores do Inca (Instituto Nacional de Câncer) e do Iesc/UFRJ (Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro).

Os números preocupam a pesquisadora Valeska Figueiredo, da Coordenação de Prevenção e Vigilância do Inca. "São mortes que poderiam ser facilmente evitadas. Isso mostra a necessidade de termos uma legislação mais rígida em relação ao cigarro", afirma.

Ela defende, porém, que as estimativas são "conservadoras". É que a pesquisa considera como fumantes passivos apenas os habitantes de áreas urbanas com mais de 35 anos, que nunca fumaram e moram com pelo menos um fumante. Ficaram de fora do cálculo, portanto, aqueles expostos à fumaça no ambiente de trabalho e os moradores de áreas rurais.

O estudo inclui apenas as três principais causas de morte por tabagismo passivo: câncer de pulmão, doenças isquêmicas do coração (como infarto e angina) e acidentes vasculares cerebrais. Outros problemas, como síndrome da morte súbita da infância e doenças respiratórias crônicas, não foram computados. "O número de óbitos provavelmente está subestimado", diz Figueiredo.

Segundo a pesquisa, de cada mil mortes por câncer de pulmão no país, sete podem ser atribuídas ao fumo passivo. No caso de doenças isquêmicas do coração, essa proporção sobe para 25 -e chega a 29 nos acidentes vasculares cerebrais.

Dependendo da doença, as mortes de mulheres são de 1,3 a três vezes mais elevadas que as de homens. Das 2.655 vítimas anuais, 1.601 ou 60,3% são de mulheres. A faixa etária que registra maior ocorrência, tanto em homens quanto em mulheres, é de 65 anos ou mais.

Segundo o Inca, o tabagismo passivo é a terceira maior causa de morte evitável do mundo, atrás só do tabagismo ativo e do consumo excessivo de álcool.

No Brasil, onde cerca de 16% da população é fumante, o fumo em ambientes públicos ou privados de uso coletivo é regulado pela lei federal 9.294, de 1996. O texto permite a criação de áreas reservadas para esse fim, o que é criticado por associações antitabagistas.

Os fumódromos, porém, podem estar com os dias contados. O Ministério da Saúde propôs emenda que proíbe o fumo em qualquer ambiente fechado ou semi-fechado. O texto já foi aprovado pela Casa Civil e aguarda envio ao Congresso.

"A lei atual está defasada e expõe as pessoas ao risco, especialmente os garçons que trabalham nessas áreas de fumantes. Não existe sistema de ventilação capaz de dissipar a fumaça, assim como não existem níveis seguros de exposição", diz a chefe da Divisão de Controle do Tabagismo do Inca, Tânia Cavalcante.

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